Tudo começa com um homem saindo de casa, armado, numa
madrugada fria. Mas do que o move só saberemos quase no fim, por uma carta
escrita de outro continente. Ou talvez nem aí.
Parece, afinal, mais importante a história do doutor
Augusto Mendes, o médico que o tratou quarenta anos antes, quando lho levaram
ao consultório muito ferido. Ou do seu filho António, que fez duas comissões em
África e conheceu a madrinha de guerra numa livraria. Ou mesmo do neto, Duarte,
que um dia andou de bicicleta todo nu.
Através
de episódios aparentemente autónomos - e tendo como ponto de partida a
Revolução de 1974 -, este romance constrói a história de uma família marcada
pelos longos anos de ditadura, pela repressão política, pela guerra colonial.
Duarte,
cuja infância se desenrola já sob os auspícios de Abril, cresce envolto nessas
memórias alheias - muitas vezes traumáticas, muitas vezes obscuras - que formam
uma espécie de trama onde um qualquer segredo se esconde. Dotado de enorme
talento, pianista precoce e prodigioso, afigura-se como o elemento capaz de
suscitar todas as esperanças. Mas terá a sua arte essa capacidade redentora, ou
revelar-se-á, ela própria, lugar propício a novos e inesperados conflitos?
Muito giro este livro que não tem uma leitura muito fácil, mas gostei imenso.
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